domingo, julho 31, 2005

Parnasianismo

O Vaso (sanitário)

Sim, estou vendo-o, candido
Curvilíneo, arte decorativa
Liso, boca grande, confortável
Uma poltrona, não, um vaso

A porta está entreaberta, miro-o
Tiro os óculos, muito admiro-o
Suas faces brancas, lisas esmalte
Dimensão da arte pela arte

No vaso, não aquele do antiquário,
Nele encontra-se água, não flores
Sua base fica ao chão, parafusado
Refiro-me ao dito vaso sanitário!


Bom, nem sei se esta poesia merece uma imagem, na verdade, ela refere-se à uma brincadeira que nós faziamos na escola sobre o parnasianismo, pois nós, simplesmente, odiávamos este movimento literário, e o que só faltava era uma poesia sobre o bendito vaso sanitário, descrevendo em formas e sensações! Não sei se ficou boa, mas pelo menos, agora não falta mais, agora se tem um poema sobre o toilet!

sábado, julho 30, 2005

Mensageiro dos Ventos

Luas de ágata sustentadas
Estrelas de calcedônia penduradas
Presas no firmamento
Movimentam-se ao vento

Eles giram conforme a brisa
Na órbita do universo interior
São translúcidos não opacos,
De pedra polida, finas pastilhas

Quatro luas que minguam
Três estrelas, quinze pontas
Em minha posse sete astros
Cabem na minha palma, todos eles

Lá fora, no alto um sol desponta
Aqui, neste quarto, porta e janela
Abertos para o vento entrar
Sete astros dançam sem parar


quinta-feira, julho 28, 2005

Poesia de Carlos

Carlos Drummond de Andrade
RESÍDUO

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. De teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
Ficou um pouco.
...
Ficou um pouco de luz
Captada no chapéu.
Nos olhos de rufião,
de ternura ficou um pouco
(muito pouco)
...
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
...
Ficou um pouco de tudo
nos pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco de ruga
na vossa testa, retrato.
...
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
em pouco de mim algures?
no consoante?
no poço
...
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
...
De tudo fica um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
do vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
...
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
...
Mas tudo, terrível, fica um pouco.
E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço do cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.
...
Fazia tempo que não postava uma poesia qualquer, assim, simples e verdadeira, pois quem não deixa um pouco de si em tudo que faz? Ou não carrega o mundo nas expressões do rosto e nas linhas que marcam a experiência que a vida nos impõe? Carlos Drummond é o poeta brasileiro que mais gosto, pois suas poesias são modernas e se contextualiza em qualquer época, pois são simples e possui valores universais!

terça-feira, julho 26, 2005

Sem Título

Há muito tempo, a alegria simplória agitava a vida de um povo que flutuava no vento cantando o amor, esquecendo por um momento suas mazelas e dando graças a Deus por existir a música, essa fórmula mágica de espantar os males. Saudoso mundo que não foi de meu tempo e que nunca será, pois os homens perderam a simplicidade, a malícia se infiltrou nos corações tornando-os vingativos e arrancando-lhes as pequenas felicidades que sentiam ainda, quando mantiam as portas e janelas abertas, quando atravessavam as noites nas calçadas jogando conversa fora, quando os cafézinhos tomados na casa do vizinho tinham um sabor especial, e quando deixavam os seus filhos brincar pelas ruas...No mundo temos que ter a esperança de que tudo pode voltar a ser como era no tempo em que as pessoas se respeitavam e confiavam no seu próximo.
O homem aprendeu a temer o homem! E o que vemos é uma intolerância arraigada que só leva à discórdia, o que temos no mundo é um extremismo desenfreado que cega as pessoas, fazendo-as perderem a paz aqui dentro, no coração, a verdadeira que tanto desejamos, cegando-lhes a razão e tornando-as calculistas.
Hoje trava-se uma guerra em nome de Deus, as pessoas estão "fanatizadas" pela religião, de fato, mata-se em nome de Deus e, mais uma vez, esquecem que o Criador deu-nos livre arbítrio e a igualdade para todos perante os Seus olhos ... Deus deu-nos a oportunidade de sermos indivíduos e nos ensinou que o melhor modo de vivermos em comunhão é respeitar as nossas diferenças. Digo e sempre vou dizer que o respeito é o sentimento que nos leva ao progresso e a ordem, nessa pequena palavra cabe todos os sentimentos de que sempre precisamos, principalmente a solidariedade.
...
Fico pensando naquele ser humano que por acaso era BRASILEIRO e foi morto com cinco tiros à queima roupa, fico pensando o que aquele elemento BRASILEIRO estava fazendo num país hostil e frio como a Inglaterra, meu Deus, somos um povo tão "sortudo" que nos matam, assim, como se fossemos bichos sendo caçados em alguma selva qualquer, chegamos a um ponto que arrancar vidas virou algo tão banal, como derrubar acácias, por que esta mesma suja a calçada com suas flores amarelas e atrai o barulho dos pássaros, é demais!
Por que sonhar com um paraiso, somos imperfeitos por natureza... talvez seja bobagem imaginar o mundo como descrito no início do texto, são águas que há muito moveram moinhos, elas mesmo já desaguaram no mar e se dispersaram até sua total diluição!

quinta-feira, julho 21, 2005

Para Mim

Parabéns Para Mim!!!!!!!!!! Hehehehehehehe!!!!!!!!!

Mais Um Ciclo


Amanhã
Guilherme Arantes

Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria
Que se possa imaginar, amanhã redobrada a força
Pra cima que não cessa, há de vingar

Amanhã mais nenhum mistério, acima do ilusório
O astro rei vai brilhar, amanhã a luminosidade
Alheia a qualquer vontade, há de imperar, há de imperar


Amanhã está toda a esperança por menor que pareça
O que existe é pra festejar, amanhã apesar de hoje
Ser a estrada que surge, pra de trilhar

Amanhã mesmo que uns não queiram será de outros que esperam
Ver o dia raiar, amanhã ódios aplacados temores abrandados


Por favor troquem o amanhã pelo hoje, e assim, a canção perfeitamente se encaixará na minha realidade, pois hoje se inicia mais uma manhã na minha vida, não simplesmente mais uma aurora, mas hoje se dá inicio a um novo ciclo! Hoje completo vinto anos, 21/07/2005!!!!!!

quarta-feira, julho 13, 2005

Ode To My Family

Cranberries, The
"Unhappiness where's when I was young and we didn't give a damn
'Cause we were raised to see life as fun and take it if we can
My mother, my mother she hold me, did she hold me when I was out there
My father, my father, he liked me oh he liked me, does anyone care"

...

Infelicidade havia quando eu era jovem e nós não dávamos importância”.
Porque nós fomos educados para ver a vida como diversão e levá-la se pudermos
Minha mãe, minha mãe, ela me abraça, ela me abraçou quando eu estava lá fora?
Meu pai, meu pai, ele gostava de mim, oh, ele gostava de mim, alguém se importa?
Tenho que registrar, nem que seja aqui, que não consigo parar de ouvir Ode To My Family, The Cranberries. Creio que já a ouvi, pelo menos dez vezes somente nesta noite! É linda, prima por sua beleza, não tenho muito o que escrever, pois não se tem palavras para definir o momento em que Dolores solta sua voz divina! Não se tem palavras, não muitas, porque os ouvidos não permitem que ao som de Ode, se atrapalhe o desenrolar de sua execução!

domingo, julho 10, 2005

Cavalleria Rusticana

Nesta tarde fria de domingo, o Inverno chega para nos arrepiar do alto da cabeça à planta dos pés, o frio entra sem ser convidado e atravessa qualquer brecha que possibilite a sua estadia, me encontro enrolado no edredom, que me serve de capa contra o sinistro e gelado vento que se aproxima, e enquanto vos escrevo com mãos trêmulas e de pelos em pé, ao mesmo que tempo que redijo este texto, algo muito bom está a mexer com a minha alma, algo que invade os ouvidos e chega até o mais profundo abismo do coração. Por um momento meu maior desejo é fechar os olhos e deixar que minha imaginação atravesse os limites do tempo e percorra o túnel que me leve a algum lugar do passado, mas ao fazer isso perderei toda a noção do presente e não poderei registrar os momentos de grandeza de minha alma. Pois bem, enquanto as palavras ganham forma e vida nesta tela virtual, a minha mente já vagueia pelas auroras da vida, olhando as estrelas que são senão os espectros de um passado longínquo.
... Parei por um minuto e cerrei as pálpebras... Ao abrir os olhos tudo voltou como era há muitos longos anos, não mais estava eu diante da caixa do futuro redigindo palavras virtuais, não mais mirava da janela de ferro a paisagem de um dia Invernal do século vinte e um, no décimo dia do sétimo mês do ano vindouro de dois mil e cinco, não mais ouvia, num fone vívido e pulsante a mesma música que agora a percebo em um fantasmagórico espírito do som, trazido para mim com o vento marítimo deste lugar distante no tempo.
Agora nem sei mais o meu nome, não sei quem sou, ou o que estou fazendo neste lugar que traz o romantismo marcado nas antigas árvores que solitárias crescem há muitos séculos nas colinas que cercam a vila que me encontro, trazem consigo monogramas de casais apaixonados que sob suas copas juraram amores para além da eternidade, agora me encontro neste lugar que me faz querer ficar para sempre nestas paragens diferente de tudo o que os meus olhos jamais viram.
Não mais confuso no vagar da minha mente insana, os meus olhos não podem me iludir quanto ao que estou vendo e sentindo, eles não podem enganar a minha mente, sei que desde então estou perdido no passado, perdido talvez não, talvez eu tenha me encontrado e agora já não mais chorarei como se fosse um estranho no ninho, como alguém que perdeu o rumo e em meio à forasteiros não consegue achar o caminho para casa. Escrevo e escrevo sem parar, para não esquecer de registrar o momento no qual vivo agora.
A alcova em que me encontro me aparece um tanto desprovida de luz, talvez não fosse o frio lá fora eu abriria a velha janela de madeira que mira a vista das colinas azuladas no horizonte, o único calor que sinto aqui dentro é o que provem da lareira que abraça todo o ambiente aconchegante com o seu calor abrasivo, duas velas de sebo me iluminam o papel e a pena que me servirão de testemunhas da jornada que trilharei em suas páginas, minha vida agora se resume nestas linhas que surgem aos poucos na timidez das minhas mãos, na frialdade do Inverno, grande senhor que castiga àqueles que tanto gozaram da vida no verão de suas vidas, sim escrevo a história que talvez seja a minha verdadeiramente, o marco que iniciou a volta da minha alma para a sua verdadeira aurora.
A sinfonia, ainda a ouço, o som que cativou os meus ouvidos, sim lá está ela, vagueando pelos ares, sendo executada em algum teatro, a ópera está animando os presentes espectadores, sim ela pode chegar até a mim, mestre Mascagni é um gênio e tanto, Cavalleria Rusticana, que bela música, que melodia, posso sentir as notas sendo abafadas pela madeira pesada que sufoca o som que polidamente chega até a mim, se não fosse o malvado Inverno eu abriria a janela e deixaria a música invadir o meu quarto escuro, neste sobrado em uma rua marginal qualquer. Como o Inverno é gelado e frio, não tem vida nem calor, não amolece ao som da melodia e abafa a sinfonia que lhe é demasiadamente desconhecida.
De repente as notas batem na janela do quarto, pedem, imploram para que eu as deixe entrar, o vento as joga contra as paredes e elas choram, apaixonado pela canção, um grande sentimento de amor e compaixão se apossa de mim, não mais podendo resistir, minhas mão abrem as pesadas madeiras de lei, o vento invade todo o interior e as notas entram e acham abrigo na alcova que é minha alma. Com os olhos cerrados e sem noção do espaço, ao som da sinfonia que é em si a magia que me toma por um escravo, danço consigo, feito um louco grito de êxtase, esqueço mais uma vez onde estou, como estou, esqueço quem sou, mesmo não sabendo quem realmente sou.
A música termina, a ópera se dispersa nos últimos tons pelo vento austral, quando me dou por mim, tudo está acabado, cessou o fogo da lareira que me fornecia calor, as páginas que escrevia com tanto zelo, se fora com o vento, a música terminara e deixara consigo a solidão e o estrago, o vento arrancou tudo de mim, até a sanidade. Lutando com todas as forças, fecho a janela, o cansaço me vence e adormeço na escuridão do comodo frio...

...

O barulho insuportável do relógio despertador me acorda e de volta a realidade estou em mim. Percebi que tudo não passara de um sonho, tão cansado estava que acabei dormindo em cima do teclado do computador, acordei assustado e com dor de cabeça, pensei, talvez tudo tenha sido uma viagem que trilhei até os mundos que povoam a minha alma, às terras do meu coração, tudo tenha sido a viagem ao interior da minha existência...