sábado, outubro 15, 2005

espe(ctr)(lh)os

Não sei como cheguei aqui, realmente não tenho ciência de como vim parar neste lugar, escurecido pelas velhas imagens do passado. Dei-me com uma sala repleta de portas e janelas, espalhados por todos os lugares, e essas portas dão para outras salas sucessivamente , e em cada uma delas se encontrava um adulto, ainda muito por amadurecer, despenteado e descalço feito criança, com os seus olhos arregalados a ver fantasmas, espectros de outras vidas, outras histórias que poderiam ter dado certo. Eles me imitavam em tudo, cada passo e gesto, ritmicamente, aquilo me deixava nervoso a ponto de chorar, não tive medo e nem vergonha, como há muito tempo, portanto rasguei-me em gostosas lágrimas, tão intensa era a angústia e a tristeza, e ao mesmo tempo choramos todos nós, aquilo me acalmou, vi que não estava só, talvez juntos poderiamos achar uma solução para saírmos deste labirinto insondável, havia muitos na mesma situação que a minha, então ri consolado e, logo percebi o sorriso no rosto de cada um, mas só o meu riso era ouvido, tentei argumentar, mas só a minha voz era ouvida, soava como um eco, aquilo me fatigou. Fui me dar conta de tudo quando agachei-me ao chão e recolhi os meus óculos, então percebi que estava só numa grande sala cheia de espelhos, que o choro de muitos era o meu somente, que a felicidade de todos era minha somente, foi aí que me senti cada vez mais só. Agora já não sei mais como sair daqui.

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