quinta-feira, outubro 06, 2005

Querer

Não sei como começar, talvez eu nem devesse, mas... Não é que já comecei?! Poucas palavras, muitos pensamentos, mas nenhum que dê vazão aos sentimentos que quero rasgar.
Queria escrever feito um doido, registrar desde o desabrochar de uma rosa até o seu murchar, quando as suas pétalas se lançam ao chão. Queria muitas coisas, mas não tenho nenhuma, nem metade, talvez um quarto sem janela e sem porta onde eu encerro meus sonhos sufocados pelo medo e pela incerteza.
Queria ter uma revolta, uma simples rebeldia, mesmo que sem causa nobre ou aparente. Talvez eu quisesse ser um ator e fazer um filme, para nele registrar a minha existência. Queria adorar a matemática, resolver cálculos e expressões com a maior naturalidade, quanto a enveredar pelos caminhos da lingua, e ler poesias de Drummond ou as obras de Somerset Maughan.
Queria ser eu, ao mesmo tempo em que renego a minha existência furada e falida, talvez eu me entendesse mais se fosse o outro, o que fica do lado de lá do espelho, aquele que se mostra para mim como o mesmo o é, ou o que sou, considerando que somos a mesma pessoa, pelo menos, ainda penso assim.
Queria não ser canhoto, e ser destro como todas as pessoas normais, isso sim seria uma satisfação. Queria não achar conforto em Chopin, Beethoven, Satie ou Mascagni. Queria não ter olhos azuis, “você usa lentes?”, ou “seus olhos são muito bonitos!”, queria que meus olhos fossem negros como noite sem luar.
Queria muitas coisas, mas nada me restou, além do que mil perguntas sem respostas, e mil respostas sem perguntas.
Ah! Meu Deus! Por que não atrasaste o nascer da minha aurora, se sabias que eu não seria feliz vivendo num mundo entre seis bilhões de estranhos?

“Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.”
(Drummond)

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