quarta-feira, janeiro 12, 2005

Casarão do Riacho

Este texto eu o escrevi no ano de 2003 para um trabalho escolar, escola da qual guardo muitas lembranças, pois passei épocas muito boas na E.E. Pe. Antônio Vieira, deixo aqui um abraço para todos os colegas com que tivemos convivência.
Esta poesia eu dedido a professora Cibele, pois foi ela que me apresentou o grande Carlos Drummond de Andrade, da qual o texto seguinte foi baseado em seu poema Resíduo: "De tudo ficou um pouco / Do meu medo. Do teu asco. / Dos gritos gagos. Da rosa / ficou um pouco" (...)
"Um pouco fica oscilando / na embocadura do rio / se os peixes não o evitam, / um pouco: não está nos livros."(...)

Sobre meu rosto passaram
© 2005 - Mário Sousa[ sub-comandante ]


Da grande janela colonial que beira o riacho rotineiro
Sozinho está a despejar suas lembranças amargas
No leito do curso que as recebem cordialmente
Descendo as encostas avante cheias de amarguras, um velho.

Debatendo-se em rochas lá estão uns resquícios de vida
Morrendo afogados nas pequenas corredeiras seixosas
E suas brandas espumas empurram-nas para longe
Longe das vistas de um velho que desabafa às Ondinas.

E algumas árvores são testemunhas desse desabafo lacrimoso
Olham com pesares memórias desmanchado-se nas águas
Resíduos de um velho peregrino sem pátria, bens e família,
Que de um casarão abandonado olha a vida num último instante.

Prevendo sua morte, limpa sua alma dos desprazeres da vida...
Despeja no rio as magoas sentidas das pessoas que já se foram.
De seu grande companheiro de outrora que morreu distante...
Sem o ver na hora de expirar e seus olhos fecharem pela última vez.

Chora ao lembrar de sua mãe que pranteava ao vê-lo partindo
Como queria ter ficado para sempre ao seu lado!
Se soubesse que seria tão trágico o seu fim jamais teria partido
E desejou ter sido sempre uma criança à se tornar um homem largado!

Despejou no rio o medo das noites mal dormidas no grande casarão,
O medo e a ruína lastimável se fez presente por todos os lados
Cria ver pela casa certo alvoroço à noite, como um animado sarau...
Memórias do colonial casarão de um tempo que nunca foi o seu.

Queria morrer em plena luz do sol, mirando o vai e vem das águas,
Queria se jogar de vez ao encontro das sereias que cantarolavam.
A ruína manifestara-se na sua casa, em sua vida e, em seu corpo...
E só lhe restara morrer em suas memórias que ainda resistiam a ela.

Morreu, num dia ensolarado olhando o rolar das águas infindas.
Após ter lançado muito de suas vagas lembranças em desalento
Como um cavaleiro, venceu a vida e descansou no esquecimento...
E do casarão sobrou a lembrança de um velho cigano sem pátria... E

...Sem documento!

O rio... O rio continua seu trajeto perene de despejar suas águas carregadas no mar.

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