sábado, fevereiro 19, 2005

12 O' clock

Às doze horas da noite os sinos badalam, anuncia-se uma madrugada escura e fria que antecederá ao dia cálido que brota das montanhas todos os dias com o sol morno da manhã. Bem ao longe se ouve um lamento, como se fosse uma triste música, não diria um lamento se não fosse tão belo. Algumas janelas deixam-nos transpassar a luz de lâmpadas frias, as luzes que tentam amainar a angústia que brota em muitos corações desamparados. Frutos da insônia alguns homens deitam-se com medo da noite escura, e os halos elétricos suspensos no teto os fazem escravos do próprio medo, certas janelas denunciam certas pessoas que escrevem sobre a escrivaninha coisas que estão guardadas em seus corações, diários são escritos à noite, contos e estórias são marcadas num papel em branco e sem vida, mas que ganham total importância quando registram a semeadura do homem, as mais belas músicas são compostas no clima noturno quando imperam as brisas geladas e o medo da solidão, na noite se reflete sobre os medos que nos reprime, e nesse ritual metade da madrugada vai se embora cantado uma lamúria que termina com o amanhecer. O vento percorre sobrevoando a cidade atrás de pessoas assustadas e frias, o mesmo atravessa as venezianas zunindo um assovio de arrepiar os pelos, o vento seca as lágrimas dos aflitos e queima a pele dos desprotegidos, muitos procuram um pouco de calor humano para se aquecerem nas noites geladas da fria madrugada, muitos trilham sozinhos o seu caminho sendo castigados pela maldosa fúria do vento que é fina e breve, mas que gela a alma. Muitos são os que precisam seguir uma filosofia para se sustentarem em pé, tais homens esperam por algo que os amparará dos caminhos pedregosos, aguardam e seguem na vida soltos pelo destino, alguns aguardam a morte para se sentirem aliviados do martírio que é viver. Na noite escura da alma os amores se aquecem, as pessoas se entregam aos seus pontos, o amor nasce a partir do momento em que dois ou mais seres formam uma unidade.
Aos poucos as luzes se apagam, uma a uma as mesmas vão perdendo a importância que exerciam nas pessoas que estavam sob o seu jugo, os corações confortados pelo calor das lágrimas que há algum momento desciam pelo seus rostos, dormem agora aquecidos pelos lençóis grossos, já sem medo fecham os olhos somente para abrirem quando o sol estiver apontando no horizonte, alguns que escreviam, há muito largaram em cima da mesa os lápis e as folhas já preenchidas de vida, os mesmos descarregados foram para a cama dormir sossegados. A cidade está agora domínada pelo sono e as brisas já caminham pelos ares sem muitas forças... o luar rareia e a noite escura já é uma pálida lembrança. Pra lá da meia noite, pouco menos das seis horas da matina, o sol desponta tímido através das montanhas do leste e aos poucos a cidade ressurge no colorido do céu alaranjado.
Mas não me esqueço daquela casa, aquele quarto no qual uma lâmpada teimou em permanecer acesa por toda a noite, estiva por certo ouvir dalí o mais belo canto que até então ouvira, doce, triste, incerto, melancólico, um verdadeiro lamento. Porém quando o sol surgiu já não mais se ouviu a melodia, já não mais se enxergava a luz pálida da lâmpada fria ... já não se ouvia e não se via mais nada...

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